Um pedido por maior atenção do Poder Público. Este é um diagnóstico fácil de se obter conversando com moradores do bairro Três Vendas. A equipe do Diário Popular circulou pela Zona Norte nos últimos dias e, por todos os cantos, a demanda era por melhor saneamento, devido às valetas a céu aberto, e por melhor pavimentação nas ruas, já que em pontos como a Vila Princesa apenas uma das vias é asfaltada, levando à vida de quem transita por lá o já conhecido “cobertor curto”: nos dias de chuva, o barro toma conta; nos dias secos, a poeira se torna um inimigo incômodo. A questão da saúde também é um ponto sensível, até pela distância de algumas regiões do bairro para o Centro de Pelotas.

Na Vila Princesa, Alice Farias é enfática ao declarar amor pela localidade, principalmente por ser um bairro tranquilo, sem barulho e de paz. Ela reclama, porém, especialmente da questão da saúde, já que a Unidade Básica de Saúde (UBS) volta e meia fica sem médicos. “É muito precário”, lamenta, lembrando que o Pronto Socorro fica a quase 13 quilômetros de distância e a UPA Areal a cerca de 15. Próximo dali, Bento Schwanck, comerciante, aponta o que define como “esquecimento histórico” da localidade, passando por diversas gestões, nos 28 anos em que habita o local. Perto de sua casa, na escola Antônio Ronna, a rua de chão batido fica intransitável nos dias de chuva. “É uma tristeza ver o pessoal todo molhado”, relata.

Líder comunitário das regiões do Pestano e principalmente Getúlio Vargas, a partir do Jovem Atleta, programa do qual é fundador, Carlos Oliveira lamenta a questão do saneamento básico. “A nossa comunidade sempre passou por uns perrengues danados e o saneamento é [um problema] histórico”, desabafa. A saúde é outra situação destacada por ele. “Há uma reclamação geral. As equipes às vezes não conseguem fazer o atendimento”, analisa, lembrando que saneamento, embora seja encarado como uma questão de infraestrutura, é também saúde pública. Ele cita que em várias oportunidades presenciou crianças brincando dentro de valetas e até pescando girinos e lambaris.

As valetas a céu aberto no Pestano, inclusive, tiram o sono de Maria de Lourdes Signorini. A moradora reclama da quantidade de mosquitos, mesmo no frio. A falta de asfaltamento também causa crises alérgicas, já que a poeira lhe traz problemas respiratórios. O combo das duas situações faz com que ela já esteja cogitando deixar o bairro, onde mora há 32 anos. “E isso me deixa muito triste”, desabafa.


Problema conhecido em vários pontos da cidade, vias sem pavimento e canais abertos continuam no dia a dia de quem mora nas Três Vendas (Foto: Jô Folha - DP)

O que diz o Poder Público
Saúde:
A prefeitura disse, em nota, que desde abril deste ano as UBSs estão atendendo a partir do protocolo de classificação de risco dos pacientes, garantindo que todas as pessoas que procuram pelo serviço sejam acolhidas e tenham sua necessidade atendida. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) aponta que no Getúlio Vargas trabalham três equipes de profissionais de saúde, com quatro médicos - sendo que um atua pela manhã e os outros três, todos os dias, à tarde. Na Vila Princesa são duas equipes, com um médico cada, porém um deles se divide entre essa e outra unidade que está sem profissional no momento, em dois dias da semana. Nos dois locais há atendimento diariamente, das 7h30min às 11h30min e das 13h30min às 17h30min, segundo a pasta. A SMS esclarece ainda que não há previsão de ampliar o horário de funcionamento em razão do número de profissionais necessários para isso.

O município destacou, também, que enfrenta dificuldades com a contratação de médicos para compor as equipes de Atenção Primária, ressaltando que o fim do programa Mais Médicos, encerrado pelo governo federal para implementar o Médicos Pelo Brasil, originou a situação, dificultando a manutenção de profissionais. A nota enviada à reportagem diz que, para tentar suprir esta demanda, a SMS tem distribuído os médicos entre as unidades, com revezamento de dias e horários, para que nenhuma comunidade fique desatendida.

infraestrutura:
Em nota, a prefeitura reconheceu que algumas regiões das Três Vendas receberam poucos investimentos ao longo dos anos. No entanto, reforça que a atual gestão investiu em áreas específicas, destacando a nova iluminação de Led da rua Santa Clara, na Santa Terezinha, a construção da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Maria Helena Vargas da Silveira, no Sítio Floresta, com capacidade para receber até 250 alunos, e o novo educandário destinado à Educação Infantil na Vila Princesa, a Escola Lory Huber, com 135 vagas.

A prefeitura ressalta que recentemente a rua Quatro de Agosto, que liga as avenidas Augusto Simões Lopes e Zeferino Costa, recebeu melhorias. Há ainda outras três obras prestes a serem feitas: na rua Félix Caputo, com contrato já assinado, na avenida Guadalajara, já em obras, e na Vila Princesa, para onde há um projeto para realizar a drenagem, pavimentação, acessibilidade e sinalização da avenida Quatro, entre a BR-116 e a rua Zumbi. Para este último caso, trâmites são aguardados para a sua continuidade.

valetas:
Em relação às valetas, a Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura (SSUI) reforça que a responsabilidade de cobri-las é dos moradores das áreas onde elas estão. Para facilitar esse serviço, o município oferece estrutura de pessoal e maquinário para a instalação das tubulações, mas os materiais precisam ser adquiridos pelo morador. Caso a pessoa deseje realizar a obra e precise de orientação, pode entrar em contato com a SSUI pelo telefone (53) 99175-5853. Neste momento, não há previsão de projetos que envolvam a retirada de valetas na Vila Princesa e no Getúlio Vargas, por exemplo.

Para participar do Nosso Bairro
O DP quer ouvir suas sugestões de pauta e apresentar reivindicações, projetos sociais e bons exemplos de cada localidade de Pelotas. Até agora o Nosso Bairro já cruzou por Laranjal, Areal e Fragata. Agora, o roteiro está direcionado às Três Vendas e, em breve, estaremos no São Gonçalo. Mas a pauta não para por aqui e a reportagem seguirá, após as apresentações, abordando a realidade. Portanto, participe! Você pode entrar em contato pelos e-mails [email protected] e [email protected] ou pelos telefones (53) 3284-7023 ou pelo WhatsApp (53) 99147-4781. Se preferir, pode dirigir-se à sede do Jornal, na rua 15 de Novembro, 718.